Pular para o conteúdo principal

Como a poesia é feita nas lágrimas escondidas

 Perdido entre Godard e Tolstói caminhava pelo centro histórico pútrido de uma cidade acabada. Passava na frente de bares e observava a boemia de toda uma juventude que se perdia em cigarros e cerveja. Não fumava cigarros, nunca aprendeu a tragar. Por isso, sempre que tinha a oportunidade apreciava um charuto barato. Um caderno em uma mão e a lapiseira no bolso da jaqueta de couro. Tinha um computador portátil em casa, mas não o usava pelo centro. Primeiro porque poderia ser assaltado; e segundo porque era muito mais bonito escrever com a lapiseira e a caneta. Ver os versos e as divagações se materializarem com a caligrafia pobre de um garoto.
 No bar em que passa, tem uma dupla tocando MpB.
"Apesar de você, amanhã há de ser um outro dia". Sabia que não. Nem sabia se teria um outro dia depois daquilo tudo. Se sentou do lado da fonte do cavalo e ficou pensando em tudo o que aconteceu. Olhou para o relógio de pulso que havia ganhado de presente da garota. Olhou para a foto dela que tinha no celular e não deixou uma lágrima cair. Somente pensava nela e no que eles não foram mais nada. Se lembrava do sorriso e dos cabelos ressecados. Da maneira sádica dela de jogar cartas enquanto, mesmo perdendo, fazia o máximo para estragar o jogo. Pensou então nos lábios grudentos de gloss e da boca com gosto de cereja. Respirou fundo, pagou o dinheiro do ônibus, e enquanto ia para a casa, pensou em como dor de corno resulta em textos bons.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Porque vamos terminar a garrafa - Pillow Talk.

 - E se terminarmos? Você sabe que tem chance, uns oitenta e oito por cento, eu diria. Digo, eu provavelmente não sou o grande amor da sua vida.  - Então porque estamos juntos? Se tem tanta chance de terminarmos.  - Porque, nesse momento, agora, você é o amor da minha vida. Prefiro viver o presente, não gosto de "e se".

A rosa desabrochada

Apesar de tudo. De todas as mudanças de todos os sutiãs queimados; as mulheres permanecem com a mesma função. Manter um lar. Sorrir quando tudo estiver caindo, engolir as lágrimas e sorrir. Oferecer os ombros para carregar o peso que os homens em toda sua masculinidade e orgulho, se recusam a admitir que não agüentam. Será assim até o fim dos tempos. Os homens lutarão, se armarão, porém as mulheres os manterão. Mesmo que não os homens, mesmo que amem outro, elas continuarão lá. Com ou sem roupas intimas.