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Nunca uma história de amor

 Todas as noites no mesmo bistrô. Aquele lugar rústico e refinado, um restaurante para se tomar vodca, café e brioches. Música ao vivo e comida cara, e na banda tinha um guitarrista com barba cerrada e o olhar triste. Tocava violão, e depois ia para o piano enquanto fazia um backing vocal. A voz rouca e áspera do rapaz não fazia jus a sua idade, porém com o talento.
 E todas as noites ela estava lá. O olhar obsessivo e o notebook em cima do balcão; os dedos frenéticos enquanto digitava, sem desviar o olhar da tela.
 Uma noite, ela veio com um bloco de notas e uma lágrima no rosto. Um sorriso forçado nos lábios e uma cerveja belga na mão. E pela primeira vez em alguns meses, ela notou o músico. Ele cantava e tocava sozinho dessa vez.

"Mirem-se no exemplo 
 Daquelas mulheres de Atenas"

 Transformou a canção de Chico Buarque  num tango. Olhou para a garota e levantou o copo, como num drinque. Ela correspondeu e limpou a lágrima.  Parou a música por uma meia hora, para conversar com a estranha no bar. E bateram papo. Entre as risadas e as conversas, ele descobre que ela toca violão. Ela pergunta se ele escreve, ele diz que não. Pois a função de um músico é transformar em sentimentos as palavras dos escritores. 
 - É possível se apaixonar tão rápido?
 Somente um sorriso de canto é a resposta do rapaz. Pega o violão, guarda ele. E saí do bistrô duas horas antes do expediente. Tudo isso para quebrar o coração de uma garota com um beijo. 


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