- Por dois segundos... Eu achei que tinha conseguido, sabe? - O velho falava, alto, soluçando e rindo. O quê mais se esperar de um bêbado. - Só fiquei um pouco decepcionado. Porque bem... Sabe o quê você nunca deve esquecer filho? - Ele disse, apontando para o barman. Se é isso o que Miguel era. Ser dono de um boteco de esquina não deve contar.
- Deixar o dinheiro no colchão?
- Aprendeu hein? - Ele balbuciava enquanto apontava para o rapaz.
- Sim, seu Zé... Vamos. Vou fechar o bar.
- Ah, moleque. Me faça algo pra comer antes.
Ele dá de ombros e começa a fritar um hambúrguer para o velho. Nem sabia se o nome dele era realmente José. Só o chamavam de Zé porque ninguém nunca perguntou. Será que era assim com ele também? Só o chamavam de moleque porque nunca iriam perguntar o seu nome. Ou se importar com ele?
Essa é a vida não é? Você participa no cotidiano de todos. Limpa o vômito deles. E como retribuem? Com apelidos. Talvez seja para o melhor. Pra quê máscaras quando não se tem identidade?
E nessa lenga-lenga, Miguel queimou o Hambúrguer. O quê provou que ele não era um barman. Barmens não servem comida. E se servissem provavelmente não os queimariam.
- Toma Zé, queimei um pouco mas...
E então, o velho estava dormindo. Babando em cima da mesa. E tinha uma garota. Feia. Pra caralho. tentando levantar ele.
- Pode me ajudar?
E ele o fez. Em silêncio. Levantou o velho fedendo à cerveja e pinga. Levou até o carro da menina.
- Obrigada, aqui. - Entregou uma nota de dez reais para ele. - Isso paga o sanduíche, mas não o incomodo. Perdão.
Entrou no Palio, fechou a porta e foi embora.
E pela primeira vez, Miguel ficou muito feliz por não terem perguntado o seu nome.
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