Uma personagem borrada na paisagem da XV. A mulher com rugas no rosto. Braços flácidos, olhos opacos. O cheiro da fumaça do cigarro forte. Ninguém precisava perguntar para saber com o quê ela trabalhava.
Trabalhava. Não mais.
O celular sendo carregado entre os seios caídos e o decote. Ficou perambulando sem rumo até anoitecer. Sentou na Tiradentes e ficou observando as suas substitutas. Muito magras. Muita maquiagem. Muito testosterona. Não conseguiu não rir.
Se perguntava se Yuri ainda estava no comando de tudo. Provavelmente sim, a Tiradentes começou com ele. E morrerá com ele. Mas o estado das coisas a fizeram questionar sobre a vida de seu ex-chefe.
Carros baratos paravam nas esquinas. As "mulheres" entravam neles sem reserva. Em meia hora voltavam para o ponto. Se lembrava de que na sua época, era mais requisitada que isso. Fazia mil em uma noite. Porém começou a fazer duzentos. E no fim. Duzentos por semana.
Afastou os pensamentos. Jogou o box de Malboros Vermelhos fora e atravessou a rua para comprar mais. Ficou surpresa ao ver que o boteco do Márcio continuava. Ao atravessar a quadra, viu as garotas. Duas, muito jovens para qualquer coisa, choravam. Três travestis se empinavam para os carros. Um ainda com a saia suja do último cliente.
Prostituição nunca foi algo glamouroso. Nunca será. Mas, nunca foi tão decadente quanto agora.
Amanda entrou no boteco, quase com lágrimas nos olhos. E o próprio Márcio continuava atendendo. Ele passou um maço dos cigarros icônicos dela.
- Achei que você tinha morrido, garota.
- Sou muito velha pra ser chamada assim.
- Sempre será uma garota pra mim. - Ele sorriu. Apesar dos cabelos grisalhos e pele manchada, Márcio era o único do ramo que tinha todos os dentes brancos. Ninguém nunca soube como. O velho fumava como o diabo. - Será que algum dia foi minha?
- Sabe que Yuri não deixava.
- Foi por isso que foi embora?
- Sabe que não. Não sou tão romântica.
- Acho que foi por isso que você sobreviveu...
- Yuri ainda tá com raiva de mim?
- Não. Ele te admira. Fale com ele que ele vai te pagar a grana que te deve.
- Na real?
- Sim. Volte amanhã.
- Ok, brigadão Márcio. Quanto te devo dos cigarros?
- Nada. Pra onde você foi?
- Interior do Paraná. Morar com minha vó.
- Continuou com a carreira?
- Não tem nada mais que eu saiba fazer.
- Mas ninguém faz isso melhor que você.
- Talvez... Essas moças novas, como são?
- Jeitosinhas. Higiênicas... Mas... Tristes.
- Como chegou a isso?
- Ninguém sabe. Mas você saiu na época certa. Yuri lucra feito banqueiro. Mas elas sofrem, Giselle...
- Meu nome é Amanda. Você sabe.
- Hábito de te chamar de Giselle.
- Larguei essa posição.
- Até amanhã garota.
Ela saiu. Ele fechou o bar e pegou o envelope em baixo do balcão. Abriu e viu se depois desses anos, a aliança ainda estava lá.
Trabalhava. Não mais.
O celular sendo carregado entre os seios caídos e o decote. Ficou perambulando sem rumo até anoitecer. Sentou na Tiradentes e ficou observando as suas substitutas. Muito magras. Muita maquiagem. Muito testosterona. Não conseguiu não rir.
Se perguntava se Yuri ainda estava no comando de tudo. Provavelmente sim, a Tiradentes começou com ele. E morrerá com ele. Mas o estado das coisas a fizeram questionar sobre a vida de seu ex-chefe.
Carros baratos paravam nas esquinas. As "mulheres" entravam neles sem reserva. Em meia hora voltavam para o ponto. Se lembrava de que na sua época, era mais requisitada que isso. Fazia mil em uma noite. Porém começou a fazer duzentos. E no fim. Duzentos por semana.
Afastou os pensamentos. Jogou o box de Malboros Vermelhos fora e atravessou a rua para comprar mais. Ficou surpresa ao ver que o boteco do Márcio continuava. Ao atravessar a quadra, viu as garotas. Duas, muito jovens para qualquer coisa, choravam. Três travestis se empinavam para os carros. Um ainda com a saia suja do último cliente.
Prostituição nunca foi algo glamouroso. Nunca será. Mas, nunca foi tão decadente quanto agora.
Amanda entrou no boteco, quase com lágrimas nos olhos. E o próprio Márcio continuava atendendo. Ele passou um maço dos cigarros icônicos dela.
- Achei que você tinha morrido, garota.
- Sou muito velha pra ser chamada assim.
- Sempre será uma garota pra mim. - Ele sorriu. Apesar dos cabelos grisalhos e pele manchada, Márcio era o único do ramo que tinha todos os dentes brancos. Ninguém nunca soube como. O velho fumava como o diabo. - Será que algum dia foi minha?
- Sabe que Yuri não deixava.
- Foi por isso que foi embora?
- Sabe que não. Não sou tão romântica.
- Acho que foi por isso que você sobreviveu...
- Yuri ainda tá com raiva de mim?
- Não. Ele te admira. Fale com ele que ele vai te pagar a grana que te deve.
- Na real?
- Sim. Volte amanhã.
- Ok, brigadão Márcio. Quanto te devo dos cigarros?
- Nada. Pra onde você foi?
- Interior do Paraná. Morar com minha vó.
- Continuou com a carreira?
- Não tem nada mais que eu saiba fazer.
- Mas ninguém faz isso melhor que você.
- Talvez... Essas moças novas, como são?
- Jeitosinhas. Higiênicas... Mas... Tristes.
- Como chegou a isso?
- Ninguém sabe. Mas você saiu na época certa. Yuri lucra feito banqueiro. Mas elas sofrem, Giselle...
- Meu nome é Amanda. Você sabe.
- Hábito de te chamar de Giselle.
- Larguei essa posição.
- Até amanhã garota.
Ela saiu. Ele fechou o bar e pegou o envelope em baixo do balcão. Abriu e viu se depois desses anos, a aliança ainda estava lá.
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