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Tequila com limão e sal

 - Então... Como ela está? - Ela me pergunta, com os mesmos olhos insoles, mesma boca vermelha. Porém há algo de diferente nela, sua expressão, seu tom de voz, seu cabelo (está mais curto, saiu da cintura para ir aos ombros) e suas unhas. Roídas. E é claro, as roupas. Os costumeiros vestidos e shorts de couro foram trocados por uma jeans e uma bata de renda.
 - Bem, digo, deve estar. Terminamos.
 - Hm...
 - Por quê? - Me viro ao garçom - Vou querer uma dose de tequila, por favor.
 - Limão e sal?
 - Pura, por favor.
 - E a senhorita?
 - Vodca com gelo e suco de laranja, por favor.
 Não consigo esconder a minha surpresa. Ela nunca tomava a bebida mais fraca da mesa.
 Dois minutos depois e tínhamos as bebidas em mãos. Mais um minuto passou e meu copo estava vazio; o dela pela metade.
 - Por que me chamou aqui?
 - Senti sua falta.
 - E o nosso passado?
 - Quero ter um futuro contigo.
 - Sério isso? Depois de tudo o que você fez comigo, você faz isso? Tenho cara de Ioiô pra você?
 - ...Você que foi embora... - A voz dela era um sussurro. - ... Me trocou por outra...
 Virei o rosto para não ver as lágrimas em seus olhos. Era ela. Ela não chorava. Não era que nem homens patéticos como eu (se é que posso me chamar de homem) que inventam personagens falsas só para ter um motivo para ir embora.
 Comecei a olhar mais cuidadosamente para ela. Sim, ela ainda tinha olhos impetuosos, decote usual, e aquela ardência familiar. Porém, havia mudado. Demais.
 - E os seus outros amantes? Como estão?
 - Nunca existiram.
 Fiquei quieto e fui embora. Deixei-a chorando com a culpa.

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