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Tequila pura

 - E então, quem é ela?
 - Não me lembro de isso ser da sua conta. - Respondi, tragando o cigarro.
 - Foda-se se é ou não, quero saber quem é ela.
 Ri, me deliciando com a expressão dela. Seu sorriso que sempre fora sarcástico e orgulhoso, tinha sido substituído por uma expressão de raiva e aparente ciúmes. Cacete, ela era linda com ciúmes.
 - Cuidado para não quebrar o copo querida.
 E então ela virou a dose de tequila, pura. Era sempre assim. Enquanto eu pedia uma taça de vinho, ela pedia duas doses de vodka. Quando eu pedia vodka, ela tomava tequila com limão. Quando eu tomava tequila, ela tomava absinto. Porém naquela noite, eu tomava somente uma cerveja preta.
 - Eu acho que tenho o direito de saber por quem você está me trocando, não é?
 - Faz diferença Mon Chér? Eu estou te abandonando finalmente, após tantas traições e tantos beijos. Finalmente assumi coragem para largar o meu maior vício. Sempre te venerei, porém você nunca olhou para isso. E como posso estar te trocando, se você não é minha e nem eu seu? Tu me disse isso no nosso terceiro encontro, antes de tirar a minha roupa. E aqui estamos, no nosso vigésimo segundo encontro. Sim, eu contei, após tantos meses de sofrimento e amargura, eu estou pondo um basta nisso tudo.
 Ela permaneceu alguns segundos em silêncio, pensando no que eu havia lhe dito. Foi o tempo de ela pedir uma Margarita e eu terminar a minha cerveja que ela começou a rir. O mesmo riso de sempre. Seco. Harmonioso. Fiquei estático, sentado naquele banco de bar. Fiz um sinal para o garçom me trazer um chopp. Não havia sarcasmo em sua risada. Poderia contar nos dedos quantas vezes isso havia acontecido. Agora, era uma e na primeira vez que transamos, ela havia se lembrado de alguma cena de Monty Phyton. Puta.
 - Você vai terminar com ela, sabia? Não agora, mas em dois meses no máximo. Não vai resistir.
 Fiz um sinal com a cabeça para com que ela contiuasse seu raciocíno.
 Ela tomou um gole e continuou.
 - Não estou preocupada em ser rejeitada por ti. Se após tudo o que eu lhe fiz, você não foi embora, não será agora que você irá. Você é um bom homem, e é por isso que não vai conseguir ir embora. Não são somente garotas e mulheres que se apaixonam por canalhas. Vocês também. E você acima de todos. Um publicitário, 30 anos, bonito, filho de pais ricos, bom gosto musical, simpático, bom. Você é basicamente o elo mais frágil de toda uma sociedade. E é por isso que você não conseguirá ir embora.
- Duvida? - Virei meu chopp.
- Não. Mas aposto a minha moto que você volta.
- Fechado.
 Apertamos nossas mãos, ela sorriu, demoníaca, planejando algo. E me virei de costas, me segurei para não olhar para trás. Mas no momento em que me virei, me deparei com a cena de ela rindo com um qualquer. A encarei por dois segundos. O quádruplo do que deveria ter me permitido, o tempo suficiente para ela morder os lábios e jogar o cabelo, fazendo-me arrepender por ter inventado uma mulher, que nunca será 1/10 da paixão que ela era.

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